5/2009 - 22:04
Por que as favelas cariocas não param de crescer?
A cada cinco anos, surge no Rio uma “Rocinha” inteira. Bons exemplos de outras cidades mostram que é possível conter a expansão das favelas
Nelito Fernandes com Rafael Pereira e Wálter Nunes
HOJE E AMANHÃ A foto ao lado mostra a Favela do Vidigal, em São Conrado. Abaixo dela, uma simulação de como poderá ser em 2043
A cada quatro anos, o Rio de Janeiro ganha em favelas o equivalente ao bairro de Ipanema. Em 2004, elas ocupavam uma área de 42,2 milhões de metros quadrados. Em 2008, a área passou para 45,9 milhões, ou 4 mil campos de futebol. O crescimento de 3,7 milhões de metros quadrados equivale à área de Ipanema – ou mais de duas vezes a Rocinha. Mantido o ritmo de crescimento atual, a área ocupada pelas favelas do Rio dobrará em 34 anos. Em 2043, a cidade poderá ter perdido um quarto de sua área verde, uma vez que a cada ano as favelas engolem 1% das reservas de vegetação da cidade.
A situação do Rio contrasta com a de capitais como São Paulo e Belo Horizonte, que mostram bons resultados no controle das favelas. Embora paulistanos e mineiros também convivam com favelas, há iniciativas alentadoras nos dois Estados. Em Minas, um programa que encheu os olhos do governador do Rio já removeu 2 mil pessoas de áreas de risco e está urbanizando seis conjuntos de favelas. Em São Paulo, um projeto que oferece ao morador opções como R$ 8 mil para a compra de uma casa em outra região conseguiu remover boa parte de favelas de áreas centrais da cidade. A extensão das favelas na capital de São Paulo, segundo a prefeitura, é a mesma há quatro anos. No mesmo período, as do Rio cresceram 8,64%.
Por que os governos do Rio têm se mostrado historicamente ineficazes em conter a expansão das favelas da cidade? Especialistas ouvidos por ÉPOCA apontam cinco fatores principais:
1 – as favelas no Rio normalmente crescem para o morro, onde não há um dono disposto a brigar pelo terreno;
2 – a fracassada política de remoção dos anos 1960 gerou novas favelas, que viraram células de crescimento para outras comunidades;
3 – a forte concentração de renda na Zona Sul atrai trabalhadores para seu entorno, ainda que vivam de forma precária;
4 – faltam opções de transporte para levar os moradores do subúrbio e da Zona Oeste até seus locais de trabalho;
5 – a legislação só permite remover favelas em caso de risco ambiental ou de vida.
Diante de tantos entraves, parece impossível encontrar soluções que não sejam controversas. A preocupação com o assunto não é nova. “O programa de defesa dos morros do Rio de Janeiro é tão imprescindível que sua execução é tarefa para cobrir de glória um prefeito que se decida a tratar dela.” Quem escreveu isso não foi nenhum jornal carioca contemporâneo, mas a revista Fon Fon, em... 1925, alarmada com “a lepra dos casebres e a devastação dos matos (que) começa já a devastar todos quantos emolduram Copacabana e essa encantadora região da Lagoa Rodrigo de Freitas”. Em 1963, uma reportagem do jornal O Globo discutia uma solução concreta, a oferta de transporte rápido e barato para quem morasse longe da Zona Sul: “A secretária de Serviço Social, professora Sandra Cavalcanti, disse que o governo está estudando um plano de passagem única para os trabalhadores, a ser executado de tal forma que um operário pague, para ir de Bangu até Ipanema, a mesma passagem que pagarão os outros para fazer o percurso de Botafogo até Ipanema”. Na ocasião, Sandra Cavalcanti tentava convencer os moradores da Favela do Pasmado que era um bom negócio trocar a Zona Sul pela longínqua Zona Oeste. A favela foi removida, mas a passagem única defendida por Sandra Cavalcanti jamais saiu do papel. E a novela das favelas continua.
Por que as favelas cariocas não param de crescer?
A cada cinco anos, surge no Rio uma “Rocinha” inteira. Bons exemplos de outras cidades mostram que é possível conter a expansão das favelas
Nelito Fernandes com Rafael Pereira e Wálter Nunes
HOJE E AMANHÃ A foto ao lado mostra a Favela do Vidigal, em São Conrado. Abaixo dela, uma simulação de como poderá ser em 2043
A cada quatro anos, o Rio de Janeiro ganha em favelas o equivalente ao bairro de Ipanema. Em 2004, elas ocupavam uma área de 42,2 milhões de metros quadrados. Em 2008, a área passou para 45,9 milhões, ou 4 mil campos de futebol. O crescimento de 3,7 milhões de metros quadrados equivale à área de Ipanema – ou mais de duas vezes a Rocinha. Mantido o ritmo de crescimento atual, a área ocupada pelas favelas do Rio dobrará em 34 anos. Em 2043, a cidade poderá ter perdido um quarto de sua área verde, uma vez que a cada ano as favelas engolem 1% das reservas de vegetação da cidade.
A situação do Rio contrasta com a de capitais como São Paulo e Belo Horizonte, que mostram bons resultados no controle das favelas. Embora paulistanos e mineiros também convivam com favelas, há iniciativas alentadoras nos dois Estados. Em Minas, um programa que encheu os olhos do governador do Rio já removeu 2 mil pessoas de áreas de risco e está urbanizando seis conjuntos de favelas. Em São Paulo, um projeto que oferece ao morador opções como R$ 8 mil para a compra de uma casa em outra região conseguiu remover boa parte de favelas de áreas centrais da cidade. A extensão das favelas na capital de São Paulo, segundo a prefeitura, é a mesma há quatro anos. No mesmo período, as do Rio cresceram 8,64%.
Por que os governos do Rio têm se mostrado historicamente ineficazes em conter a expansão das favelas da cidade? Especialistas ouvidos por ÉPOCA apontam cinco fatores principais:
1 – as favelas no Rio normalmente crescem para o morro, onde não há um dono disposto a brigar pelo terreno;
2 – a fracassada política de remoção dos anos 1960 gerou novas favelas, que viraram células de crescimento para outras comunidades;
3 – a forte concentração de renda na Zona Sul atrai trabalhadores para seu entorno, ainda que vivam de forma precária;
4 – faltam opções de transporte para levar os moradores do subúrbio e da Zona Oeste até seus locais de trabalho;
5 – a legislação só permite remover favelas em caso de risco ambiental ou de vida.
Diante de tantos entraves, parece impossível encontrar soluções que não sejam controversas. A preocupação com o assunto não é nova. “O programa de defesa dos morros do Rio de Janeiro é tão imprescindível que sua execução é tarefa para cobrir de glória um prefeito que se decida a tratar dela.” Quem escreveu isso não foi nenhum jornal carioca contemporâneo, mas a revista Fon Fon, em... 1925, alarmada com “a lepra dos casebres e a devastação dos matos (que) começa já a devastar todos quantos emolduram Copacabana e essa encantadora região da Lagoa Rodrigo de Freitas”. Em 1963, uma reportagem do jornal O Globo discutia uma solução concreta, a oferta de transporte rápido e barato para quem morasse longe da Zona Sul: “A secretária de Serviço Social, professora Sandra Cavalcanti, disse que o governo está estudando um plano de passagem única para os trabalhadores, a ser executado de tal forma que um operário pague, para ir de Bangu até Ipanema, a mesma passagem que pagarão os outros para fazer o percurso de Botafogo até Ipanema”. Na ocasião, Sandra Cavalcanti tentava convencer os moradores da Favela do Pasmado que era um bom negócio trocar a Zona Sul pela longínqua Zona Oeste. A favela foi removida, mas a passagem única defendida por Sandra Cavalcanti jamais saiu do papel. E a novela das favelas continua.
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